Tenho conversado com colegas e amigos que me dizem que tem sentido algum medo.
Um amigo diz que tem medo de tubarões. Um colega diz que se sente incomodado quando entra num autocarro, e vê alguém com turbante. Outra amiga tem medo de cães, inclusive se vir algum a andar na rua muda de passeio. Outra colega diz que tem medo de andar sozinha à noite em alguns bairros de Lisboa.
Existem muitas explicações para os medos, muitos estudos são feitos para explicar, quer a nível psicológico, quer a nível sociológico, e cultural.
No caso dos tubarões, o filme “Jaws” do Steven Spielberg cansou um impacto muito grande nas pessoas, criando um medo perante o bicho (recomento este artigo sobre o assunto).
Em relação ao medo de gente com turbantes e de andar sozinha em alguns bairros… Existe uma base inflamatória e xenófoba que muita gente nem se apercebe.
Não é de hoje que vemos filmes onde os maus da fita são os homens que andam de turbante. Os típicos terroristas dos filmes do Stallone (Rambo) ou Schwarzenegger (True Lies), ou até num filme como o “Regresso ao Futuro” (sim, lembrem-se a quem o Doc Brown roubou o plutónio para fazer o carro). E nos últimos anos, sobretudo depois do 11 de setembro, ainda é mais notório nos filmes e séries de Hollywood. Existe inclusive um livro escrito sobre este fenómeno intitulado “Orientalism” (recomendo este artigo).
Agora que reparo, já são dois medos que foram projetados pelo cinema. Ou quase.
O quarto medo (andar em determinados bairros) está relacionado com o anterior. Afinal os bairros que se costumam referir são locais onde existem uma maior percentagem de pessoas de outros pontos do globo (africanos, asiáticos, etc…). E a maioria das pessoas não está habituada a conviver com pessoas que não são parecidas com elas.
Quando perguntei a algumas pessoas mais próximas se conheciam alguém que fosse muçulmano ou que não fosse caucasiano, muito raramente respondia afirmativamente. Nem nunca tinham conversado com alguém.
Lembro-me de um casal amigo irlandês que visitou Lisboa e me dizia que tinha estado na conversa com o condutor de Uber (que era do Bangladesh) que ficou todo contente por eles conversarem com ele (parece que poucas pessoas faziam o esforço para falar inglês com ele). E isto já foi há uns 5 anos.
Diria que a maioria das pessoas não percebe que está a ser manipulada (com ou sem intenção) para desenvolver alguns medos. Quem quiser perceber um pouco mais, recomendo ler este pequeno artigo do site Vox.
Eu cresci com medo do escuro e medo de morrer sozinho. Nos últimos anos consegui resolver o medo de morrer sozinho com terapia. Mas ainda não consegui deixar de ter medo do escuro.
E tu, tens medo do medo? Ou tens outro medo?
